Sunday, May 27, 2007

É a Cultura, estúpido!

Esta é a frase que serve de mote a uma serie de debates, realizados com uma frequência regular, em Lisboa, sobre o estado da Cultura. Também poderia servir de legenda para uma fotografia de Mário Lino, utilizando o termo na sua acepção mais abrangente. Mas não é sobre isto que trata este post. É mesmo sobre a Cultura no seu amplo conceito de fruição.
À Cultura vem também associada a questão dos gostos, a criação e formação destes, a ponto de muitas vezes se instituir uma ditadura de padrões, como tão bem espelha o filme O Gosto dos Outros, de Agnès Jaoui. Há as tribos, há os que estão em cima do acontecimento, há os clássicos, os puristas, os vanguardistas, os da mensagem, os da forma... os que são tudo isso. Há sempre rótulos para medir a competência do gosto, aqui e ali encarado como conhecimento: «então, já conheces isto?», «não conheces isto, como é possível!?» ou o peremptório: «ah, o teu estilo é mais este; conheço uma coisa que é mesmo mesmo o teu género, de certeza que vais gostar [às vezes lá calha e acerta!]».
É quase como se estivessemos a apanhar um comboio na pressa de um movimento pendular, de chegar a qualquer lado, mesmo que tenhamos tempo para nos deleitarmos e demorarmos numa viagem mais longa. Sinto falta disso, da simplicidade da troca. Sem perguntas inquisitoriais, de medição estatística da intelectualidade e consequentemente da avaliação do interesse pessoal feita a partir daí - apenas com base numa relação pretensamente matemática.



Talvez por isso, em vez de um TGV cultural, tenha preferido seguir em carruagens do passado até aos confins do mundo, onde tudo é tão agreste e simples, e pegar no "Patagónia Express" do Luís Sepúlveda.(um dos que ainda não li dele - capa na imagem em baixo) como próxima paragem da minha vagarosa e ainda curta viagem por estes territórios da cultura.

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