Saturday, May 17, 2008

O grande Camané no Coliseu



Soberba ou fantástica seriam palavras suficientes para descrever esta noite, ou não se estivesse a falar de Camané, aquele a quem se tem chamado o sucessor de Amália. Mas ainda assim muito ficaria por dizer da grande estreia do fadista no Coliseu dos Recreios. Camané enche o palco com a sua voz, mesmo quando canta encoberto pelas cortinas e apenas se vêem os músicos que o acompanham - José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Paulo Paz (contrabaixo) - como aconteceu com 'Sei de Um Rio', o tema que serve de apresentação ao seu mais recente disco, "Sempre de Mim", e que serviu também para abrir o espectáculo. Estava assim dado o mote para uma noite arrebatadora, em duas formas a que Camané dá corpo com igual intensidade e virtuosismo: o sentimento sofrido nos temas mais introspectivos e melancólicos e a veia mais tradicional, como se nele ouvíssemos e vissemos, através da garra na interpretação e na sua postura - cabeça inclinada para trás e mão no bolso - todos os bairros antigos de Lisboa. A parte inicial do concerto, fez-se, assim, de uma quase total contemplação, mesmo para fados cuja familiaridade os aplausos mais sonoros denunciavam. "Como sempre como dantes", a passagem de 'Mais um Fado No Fado', seria ouvida no silêncio da saudade entretanto saciada. Mas era pelo seu novo disco que Camané ali se encontrava, como de resto relembrou. 'Lembra-te Sempre de Mim', 'Mar Impossível' e 'Antes do Grito' isso mesmo o demonstrariam, ao mesmo tempo que elevavam a beleza poética dos temas a que o fadista nos tem habituado, pela forma como os incorpora na sua voz e como lhes dá sentido nos silêncios que doseia dentro das interpretações.




Para outros, como 'Dança da Volta', deixa libertar a guitarra portuguesa, de José Manuel Neto, no dedilhar acelerado em sintonia com o contrabaixo, e com elas arranca os aplausos mais fortes, aqueles que parecem querer dizer "ah, fadista!", e que se repetiriam em 'Fado Sagitário', 'Sonhar Durante o Fado', de Sérgio Godinho, ou 'Marcha do Bairro Alto', de José Mário Branco. Dois nomes referidos pelo fadista, entre os cumprimentos e agradecimentos àqueles que contribuíram no seu novo álbum. Sérgio Godinho estava sentado ao lado de Carlos do Carmo, como apontou Camané, antes de eleger o intérprete de 'Lisboa Menina e Moça' como uma das suas principais referências, a par de Amália e Alfredo Marceneiro. Em honra a este último interpretaria 'Triste Sorte' e evocaria Amália em 'Asas Fechadas', tema que gravou mas não chegou a incluir no seu mais recente trabalho. O momento foi dividido com Carlos Bica, encarregue do contrabaixo neste e noutros discos do fadista e músico convidado no espectáculo do Coliseu. Mas a noite ainda estava longe de chegar aos "braços da madrugada" e Camané teve de voltar quatro vezes ao palco para atender à sede do seus admiradores. 'Ciúmes da Saudade', 'Senhora do Livramento', 'Ela Tinha Uma Amiga' e 'A Minha Rua', com o cansaço já a atraiçoar um pouco a memória da letra, serviram os sucessivos encores, mas seria a capella que o fadista decidiria pôr fim ao seu espectáculo, cantando 'Complicadíssima Teia'.
As pessoas que melhor cantaram em Portugal foram fadistas, porque «tinham um sentido de palavra incrível», assim o disse o Camané. Talvez não se apercebesse que estava também a falar de si, como mostrou esta noite no Coliseu, num espectáculo memorável.


in Cotonete

Friday, May 16, 2008

Sempre de mim...de nós

O que têm em comum Camané e Portishead? Nada, a não ser o simples facto de serem os autores dos discos que mais tenho ouvido nos últimos, "Sempre de Mim" e "Third", respectivamente. Mas hoje, porque a noite foi sua, rendo homenagem maior a este grande senhor: CAMANÉ




Thursday, May 8, 2008

Afinal não fechei a porta...Ela é que está fechada e eu não tenho a chave.

Monday, May 5, 2008

Decisões

Desta vez quis antecipar aquilo que considerara inevitável, controlar, pensava eu, o decurso das coisas, como se tal fosse possível, e assim evitar mágoas e sofrimentos.

A questão é que, por medos e receios cuja existência afinal não consigo provar, pelo menos ainda, precipitei-me numa decisão que pensei que me poupasse o tal sofrimento. Só que, ao contrário do que pensei, essa decisão revelou-se tão ou mais penosa que a vulnerabilidade de uma eventual exposição de sentimentos.

Na ânsia de evitar desilusões passadas temo ter feito juízos precipitados e ter fechado a porta a alguém ...