Saturday, March 24, 2007

Ai Scalabis, Scalabis!




Este fim-de-semana tive mesmo vontade de ir/vir para a terrinha – no caso, Santarém. É certo que tenho uma relação amor/ódio com a minha cidade, mas as saudades do verde da lezíria com o Tejo a serpentear no meio, que se avista das Portas do Sol, as ruas com as igrejas góticas (e não só), levaram-me a meter-me ao caminho.

E eis que chego, então, à Scalabis. Saio da gare, respiro o ar com o cheiro das árvores em flor e esboço um sorriso. Sigo para casa, a pé, de mochila às costas. Vou pelo mercado: é mais perto e o edifício é digno de ser apreciado, pelos azulejos.

É aí que me deparo com uma coisa extraordinária, que me deixa incrédula e me tira de imediato o sorriso, recordando-me a parte menos boa da minha relação com a minha cidade – um outdoor da Câmara Municipal a apelar ao voto dos escalabitanos no D. Afonso Henriques para o Maior Português de Sempre (sim, o programa da treta apresentado pela Maria Elisa).

Só esse facto já é questionável, para não dizer ridículo, mas é ainda secundado por uma frase de incentivo convicta de bairrismo e identidade e sabe-se lá mais o quê, que é qualquer coisa como: «Ele lutou pela nossa cidade, vamos lutar por ele».

D.Afonso Henriques lutou para conquistar a nossa cidade aos mouros e mesmo assim foi Mem Ramires quem cortou a cabecita ao sentinela mourisco, nas Portas do Sol.


Ou seja, Santarém já existia (veja-se, por exemplo, o termo Scalabis de onde deriva escalabitano – não foi o sr. que o inventou) mudou foi de domínio. Claro que foi ele o primeiro rei de Portugal, mas estariam na altura os escalabitanos tão contentes com essa mudança, com a luta que ele travou “por” Santarém? A bem dizer, o que fez o D. Afonso Henriques de especial por Santarém, que não tenha feito noutras cidades?

Outra coisa que me choca nestas peripécias neo-santanistas, é perceber que se anda a gastar o dinheiro de uma autarquia falida – sobretudo tendo sido isso bandeira de campanha – com coisas perfeitamente terciárias.

Parece que na intelligentsia da cidade há uma euforia generalizada em torno da questão. Pena não haver um Nanni Moretti que reproduza estas idiossincrasias tão portuguesas, como faz com a sua Italiazinha.

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