Thursday, June 18, 2009

As matriarcas

Viver num bairro de Lisboa é assitir ao perdurar de hábitos ancestrais e, aparentemente, rurais como por exemplo o acto de dar sentenças às novas gerações com o estatuto de ancião do clã.
No café que 'serve' a minha zona do bairro - na fronteira da freguesia - há três velhotas que ditam as regras da convivência social bairrista.
Uma destaca-se claramente como a chefe do conselho tribal. Veste de preto, marca dos anos passados pelas rugas e das mágoas acumuladas na voz rouca e rabugenta, e levanta-se da mesa para ir dar ordens à miúda nova do café ensinando-a como deve servir e em que ordem deve servir os clientes. Ela, obviamente, não é a dona do café mas é a chefe do clã.
Olha, então, para mim e diz, olhando para a moça e sorridente: «está cá há pouco tempo», como que justificando a atitude metediça e autoritária. Não há como não ficar comovida.
Pouco depois levanta-se novamente, desta vez para recusar o pedido de desculpas do maluco que ocasionalmente nos assedia com um: «olhe, desculpe, não me paga um cafezinho?». Percebo pela conversa que o maluco terá ofendido a chefe do clã recentemente. Desconheço, no entanto, o teor da ofensa. Mais uma vez ela apressa-se a justificar que a rispidez com que o despacha mais não é do que a atitude pedagógica de o impedir de voltar a repetir a graça. O que ela não conta são as vezes que ela e as restantes conselheiras gozaram, com um veneno bem jovial de fazer corar a crueldade adolescente, o dito maluco, numa altura em que este ainda parecia cair nas boas graças do matriarcado.
Que terão dito elas da minha saia?