O teatro Maria Matos, em Lisboa, estás prestes a estrear uma peça sobre "Cândido", uma das obras mais conhecidas de Voltaire e um dos livros que mais me marcou. A questão da perda da inocência é contada na forma de uma longa aventura a caminho do El Dorado, que leva Cândido a deparar-se com pessoas e situações que vão traduzindo os vários defeitos da humanidade e das sociedades, como a ganância, o cinismo, a ambição, o falso desprendimento, etc. Uma das situações que recordo particularmente é quando Cândido encontra um homem rico, dono de uma mansão faustosa e detentor de uma biblioteca invejável. Com o tal falso desprendimento de quem tudo tem, o sr. desvaloriza as grandes obras que possui no seu acervo e a que Cândido se vai referindo com admiração e espanto.
Essa passagem e a queda do mito do El Dorado - o âmago da história - são apenas algumas das "desilusões" de Cândido. Mas nesta alegoria do iluminista Voltaire contra o fausto do Antigo Regime e os privilégios da nobreza e do clero o livro termina com um renovado optimismo mais prático e menos encantado, numa lição que o velho turco dá a Cândido: a de que nada cai do céu e que é preciso trabalhar, criar e empreender esforço. «O trabalho liberta-nos de três calamidades: o aborrecimento, o vício e a necessidade». Por isso no final Cândido insiste:´«é preciso cultivar o nosso jardim»
A peça "Cândido estreia dia 24 deste mês. A encenação é de Cristina Carvalhal e a tradução e adaptação de Cucha Carvalheiro.
Teatro Maria Matos
24 de Janeiro a 24 de Fevereiro
4.ª a sábado às 21h30 domingo às 17h00
Bilhetes: 15€
4.ª a sábado às 21h30 domingo às 17h00
Bilhetes: 15€